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Novos e velhos títulos

  • Foto do escritor: clinicajardins
    clinicajardins
  • 13 de out. de 2014
  • 3 min de leitura

Há alguns anos atrás era patente em nossa cultura o relacionamento com base em um distanciamento via títulos, uma relação entre pessoas por vezes começava não pela base de seus nomes mas sim, na garantia de uma posição diferente entre as pessoas por conta dos significados com que certas nomenclaturas sociais podiam carregar. Se falavam senhores, se falavam senhoras, se falavam senhoritas, se falavam doutores – os lugares sociais se colocavam à frente das conversas.

Curiosamente, uma espécie de lugar socialmente construído pelo peso do título ou da titulação de um individuo foi se impregnando na cultura. Quase como se houvesse neste “lugar” uma garantia social para aquele que adquiria esta proteção ao seu nome em um cartão ou em algum anúncio. Mas, não apenas uma proteção estava em jogo – estava muito mais do que isto – também, continha nesta relação uma pressuposição, continha também, uma espécie de construção entre as pessoas sobre uma fantasia sobre este lugar, com algumas qualidades e/ou com certas características já garantidas pelo “peso” quando surge a boa e velha “carteirada” . Entretanto, assim como conseqüências nunca vem separadas de uma escolha - um processo nunca se manifesta separado de sua história e por isto, esta grandiosidade social que foram atribuídas à estes nomes nunca vem sem as marcas do passado daquilo que a sustentaram e a construíram.

Esta sensação de que há uma relação diferente por conta destes “pré-nomes” não se dá por nada, não surge sem razão, ex nihilo – há uma história que pôde instaurar e estabelecer este “lugar” na sociedade. Existem sempre vestígios do motivo pelo qual hoje agimos e pensamos da maneira como pensamos, pela maneira como nos questionamos sobre o que nos questionamos – e esta construção é vital para considerarmos aquilo que expressa nosso modo de vida, nossos modos de sofrimento, nossas formas de expressão, nossas maneiras de nos relacionarmos, entre tantas outras construções... E da mesma maneira como hoje alguém ouve e toma a palavra dita pela ciência ou ouve e toma as palavras proferida pela religião - esta assimilação, esta possibilidade de consideração diante do que é dito não se dá por menos, não acontece sem inúmeros anos de história que construíram este lugar na nossa realidade. Ou então, o que é levado em conta por alguém, a maneira como esta pessoa lida com certas circunstancias, nunca é livre do mundo que a cerca. Mas, geralmente, não nos convidamos a questionar algumas destas construções ou menos ainda, não nos colocamos para pensar no por que tomamos certas escolhas e/ou certos caminhos. Não paramos para ouvir o que é, de fato, nosso – diante de tantas construções que não são necessariamente nossas.

É óbvio que as pessoas não mais traduzem automaticamente (às claras) seus relacionamentos com os títulos e com a titulação que pré-nomeia os lugares das pessoas na sociedade. A expressão destes lugares instituía um lugar que hoje, não possui mais o mesmo significado que possuía – mas, tal lugar não cessou de existir e seu questionamento não necessariamente o fez mudar de posição na sociedade. Aquele que fala do lugar de um título ainda ganha e ainda possui um caráter social que é extremamente valorizado – o lugar daquele que pode dizer algo sobre alguém, que tal pessoa não tem condições de saber, de pensar ou de dizer sobre si. E não é por menos, que hoje todos estes pontos e todos estes problemas são essenciais serem considerados e trabalhados, serem questionados por quem se propõe pensar não só sobre sua atuação e seu trabalho no mundo, mas também o seu próprio lugar, sua própria existência diante da sociedade.

Sendo assim, está na possibilidade de problematizar e de fazer com o que a capacidade de apontar a problematização para os lados mais devidos diante do sofrimento humano – apontá-la para si mesmo – que a única real possibilidade de engajar uma pessoa diante do seu próprio sofrimento se dá. Esta nesta possibilidade viabilizar os passos para alguém analisar o que diante de uma situação lhe cabe, lhe é único, daquilo que é simplesmente uma queixa genérica e não necessariamente própria do seu sofrer.

Rodrigo Gonsalves


 
 
 

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