O custo de um atendimento
- clinicajardins
- 10 de set. de 2014
- 2 min de leitura
A análise é cara!
Demorou para que eu dissesse essa frase para um paciente sem um nó na garganta. Nos primeiros anos talvez fosse por que eu cobrasse tão pouco que não teria por que afirmar isso, mas mesmo depois de um tempo existia um medo de desanimar o paciente, mas agora eu costumo repetí-la com mais certeza e por outros motivos.
O tratamento analítico pode custar muito, dependendo do profissional e da frequência que se busca. Mas acaba sendo um peso no orçamento mais pela repetição do gasto do que pelo valor exorbitante. É difícil abrir um espaço de centenas de reais em qualquer conta, é uma quantia cruelmente disputada com custos secundários imprescindíveis, como mais saídas de lazer, aulas de línguas e algum esporte que exija mensalidade.
Quando se vai desembolsar uma quantia significativa com certa frequência se costuma reavaliar os ganhos daquele investimento, e pensar em gastar para conversar, ainda mais com alguém que pode discordar de você nas ocasiões em que se dispõe a falar pode parecer um capricho desnecessário.
Mas não é disso que eu falo quando cito que a análise é cara!
Claro que é preciso fazer um investimento monetário, mas mesmo assim ainda gastamos dinheiro com academias que abandonamos, cursos de inglês para os quais não estudamos, livros que não lemos, jantares que vão para o lixo e isso dentre todo o consumo excessivo de bens do obsolência programada. Não é por que disperdiçamos dinheiro com outras coisas que a análise parece barata, por que na verdade ela não é, mas não se trata de dinheiro, mas de investimento emocional.
O caro não é pagar para alguém que só vai te escutar, mas sim suportar se ver naquela posição. Aguentar se ver mal, vulnerável, necessitando de ajuda já é caro demais para grande parte das pessoas. Depois disso, é ainda mais insuportável ter que começar a se questionar o porquê daquilo, o quê causa aquelas repetições que o angustiam tanto, e começar a enxergar que parte dos motivos estão dentro de você mesmo.
Se enxergar como alguém que sofre e depois se descobrir como o causador do próprio sofrimento é caro demais para muita gente que só estava procurando paz de espírito.
Infelizmente não existem muitos caminhos para se alcançar essa paz, e eles são em sua maioria caros em muitos sentidos, e a análise é um desses caminhos. Mas havendo força é a melhor recomendação que eu posso fazer em casos de repetição e angústia: faça sua análise.
E quando ela pode ser feita ela traz grandes mudanças. Ela instrumentaliza o paciente a dar conta de suas questões com respostas mais adaptadas, mais apropriadas para o problema em questão, e isso muitas vezes não tem preço.
Poder transformar uma relação antiga, ver uma pessoa ou uma memória com novos olhos é um recurso impossível de se transpor para uma moeda. E nesse sentido a análise pode ser algo muito valioso, muito rico para o paciente. Muito caro.
Então quando eu recomendo e falo da análise, eu lanço esse aviso, preparando a pessoa para os custos que virão, mas discretamente adiantando os ganhos que o esperam: a análise é cara!
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