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Briga de casal

  • Foto do escritor: clinicajardins
    clinicajardins
  • 5 de mar. de 2014
  • 3 min de leitura

Há um antigo ditado no Brasil: "Em briga de marido e mulher não se mete a colher". Inicialmente ele parece ser um aviso de perigo, indicando que não se deve tentar resolver uma briga que não é sua e que o melhor é deixar que eles se resolvam, mas por que colher?


A colher em geral é usada para comer, pegar um pedaço, carregar alguma coisa de um lugar a outro, muitas vezes uma boca. A idéia de que alguém está comendo ou ganhando alguma coisa numa briga ainda não faz muito sentido, mas pensemos na briga por um tempo. Se pensamos no conflito como uma guerra, seria compreensivo que os espectadores tentariam se aliar a algum dos lados e garantir sua sobrevivência depois.


Não parece lógico descrever uma briga dessa maneira, mas a briga em sí parece pouco lógica quando vista de perto, então pode ser necessário transitar por uma terra sem lógica até se entender o que acontece com um casal em conflito. Quando se para e ouve um casal em briga muitas vezes se dá conta de que eles não brigam pelas mesmas coisas. Ele reclama do jeito que ela trata ele enquanto ela demanda mais atenção, em outra situação ele pode criticar o jeito dela tratar a família dele enquanto ela pede mais coerência nas palavras dele. Um casal em crise conjugal não costuma brigar a mesma briga, não é como um conflito comum onde duas pessoas discordam do mesmo assunto com opiniões divergentes, o que um reclama o outro ignora e em troca reclama de outra coisa.


Sem entrar em técnicas e teorias ja fica claro o quanto uma briga pode ser interminável enquanto as partes envolvidas não conseguem se encontrar e concordar sobre qual é a briga. É como alguém que te espera em casa para brigar com você enquanto você vai ao trabalho dessa pessoa brigar com ela, enquanto não estiverem no mesmo lugar, metafóricamente, não tem como resolver o conflito.Mas se essa briga continua infinitamente, e só piora, é por que o que está em jogo nem são mais os argumentos, mas quem sai valorizado do conflito.


Por isso mesmo que termos como merecimento e respeito são tão comuns em brigas conjugais, o que acontece aí é uma briga velada, não declarada, sobre quem tem o direito à reparação e às desculpas do parceiro.Então se pensamos de volta na colher, o que pode estar significando esse aviso é que não se apoie nenhum dos dois lados em busca de reconhecimento. As vezes na busca constante que temos desse reconhecimento nós nos inscrevemos em guerras e nos aliamos para tentar ganhar alguma coisa. Essa busca por reconhecimento e ressarcimento pelos danos causados é igual para os dois lados, assim como é igual para o espectador. Esse espectador com a colher, faminto por reconhecimento pensa mais ou menos assim: “Se me alio à Maria e ela consegue o reconhecimento de que estava certa, então eu estarei certo junto com ela, certo por tabela. E aí preferindo a amizade da Maria no lugar da amizade com o João, mesmo que discorde um pouco dela, eu posso deixar passar essa discordância só por causa da briga, na tentativa de ganhar junto com ela.”


Lucas Nogueira


Veja como é um assunto embolado. Por isso mesmo que se aconselha os outros a se distanciarem desses conflitos, para não atrapalhar uma relação que já está em crise.Da mesma maneira o medo de um casal de procurar ajuda é de encontrar na sessão de terapia um aliado do inimigo. Alguém que vá meter a colher e roubar um tanto do seu pedaço,e pior, ser pago para isso! Mas essa não é uma técnica usada, por que no tratamento de um casal não se trata de opinar sobre a briga, mas de ajudá-los a se encontrarem no campo de batalha, ajudá-los a se encontrar, para que eles possam, de uma vez por todas, discutir o que lhes incomoda e então decidirem o que fazer com aquilo.

Sem colher, sem intromissão.

 
 
 

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